domingo, 2 de junho de 2013

Elena e Adalberto

Hoje assisti ao Longa Elena. Neste filme a irmã de Elena, Petra Costa, vai até Nova York numa busca simbólica atrás de Elena que havia se suicidado quando Petra tinha 7 anos.

Fiquei muito comovida com o filme...

Casualmente estava olhando o meu "google.docs", ferramente que eu nem sabia que existia (desculpa a ignorância) e me deparo com um poema/carta que recebi de um amigo, Adalberto, que sofria da mesma doença de Elena e também se suicidou.

Hoje vejo, que descaradamente ele dizia que ia se matar, na época minha cegueira não enxergou de forma tão clara. Nestas horas apesar dos estudos, da cultura, da proximidade... ficamos em partes cegos, e isso é angustiante. Ter em mente que isso poderia ter sido evitado me deixa sempre com culpa. Culpa que hoje já é menor do que na época.

Antes de sua morte ele me ligou, dizendo adeus, não literalmente, afinal me disse que estava indo para Florianópolis.  Mesmo assim procurei-o por toda a noite e não o encontrei. As 10h me ligaram falando que ele havia se jogado na frente de um trem e que a última ligação de seu celular foi para mim.

O ano era 2009 e nós davamos aula de teatro num colégio de irmãs. A turma ficou em choque, segui o trabalho até o fim do ano. Apresentamos quatro pequenas peças, sendo duas de sugestão do Adalberto.

Meu grande amigo deixou saudades, tanta dor que surgem lágrimas.

Aqui está o que ele escreveu:

Sou um Corajoso

Ando estressado
Quem me olha nem percebe
Pareço tão feliz
Como pode?
Escrevi uma carta
Antes fiz uma rápida pesquisa na Internet
Achei alguns contos
Alguns relatos
Conselhos de especialistas
Maneiras e dicas
Nenhuma me convenceu
Já to decidido
Ora...
Quem me convence que o céu tem anjos
Bobagem
Se eu acreditar nisso
Me desmoralizo
Perco a  coragem
E em Deus, hein?
Ou melhor deus
Pra que acreditar nisso
Nunca o vi
Nem o senti
Ele me protegeu até aqui
Dizem...
Pra que...?!
Pra eu acabar assim?
Só pode
Melhor deus pra mim
è um homem perfeito
Branco, sem pelos, bem desenhado
Novo, tenro, olhos azuis e cabelos claros
Bom na cama
Que faça o que eu quero
Que só tenha olhos pra mim
E nem precisa ter cérebro
E pergunto “isso” existe?
Acho que não...
Então não existe deus
Esse blá blá blá todo
É pra me despedir desse corpo sem dó de mim
E sem esperança de renascer
Não acreditar em céu ou inferno
Me dá a tranquilidade
De partir sem medo
E ser uma única vez na minha vida
Corajoso.



Adalberto Oliveira Tolentino
Em meu serviço na Central de Obitos
em 22/07/2009 quarta-feira
termino aproximado as 05:04h
Escrevi depois de pesquisar sobre suicidio na internet

e escrever um e-mail pra minha maninha Kelen



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